Exclusão social expulsa da escola milhões de crianças - apesar dos mais altos índices de matrículas da história da educação brasileira.
João Marcos Rainho*
Apesar do esforço oficial do governo em colocar toda criança na escola, a exclusão continua. O Brasil é um país de dimensões continentais, cujos governantes gostam de exibir estatísticas que o colocam na rota do Primeiro Mundo, mas somos a décima economia do planeta - e líderes mundiais no ranking da desigualdade.Aí surge a questão do que veio primeiro: é a falta de estudo que gera a exclusão social ou é a pobreza que impede a manutenção das crianças e jovens na escola? Essa pergunta tem várias respostas, e dependendo do ponto de vista de cada pessoa.
"Não somos o país mais pobre do mundo, mas somos, com certeza, junto com a África do Sul, o mais desigual.” Os índices de evasão e repetência são piores que nos países mais pobres da América Latina.
"A exclusão escolar está ligada à questão da exclusão social", explica Marlene Ribeiro, doutora em educação e professora titular em filosofia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Segundo a pesquisadora, é falsa a idéia de que a exclusão social se inicia com a exclusão escolar. "O oposto é mais verdadeiro: a exclusão escolar é uma conseqüência da exclusão social. O desemprego gera a desagregação familiar e tem levado cada vez mais crianças a deixarem a escola para ingressar no mercado de trabalho infantil."
A doutora Marlene Ribeiro, da UFRGS, concorda que a exclusão praticada na própria escola é um dos grandes males do sistema educacional brasileiro, ressaltando que o problema se agrava na medida em que tem como base um preconceito cultural: "A exclusão na escola está associada ao modelo de conhecimento e de cultura que adotamos - que é basicamente de classe média, branco, individualista e urbano." De acordo com Marlene, isso termina por expulsar as crianças das camadas populares, para as quais a escola é quase um país estrangeiro. "Essas crianças pobres precisam assimilar códigos de linguagem, de comportamento, de higiene, conceitos e desafios muito diferentes dos enfrentados no seu dia-a-dia", explica. "Ao mesmo tempo, sofrem uma discriminação socioeconômica e racial que ajuda a afastá-las - e a escola não sabe como lidar com isso. Os professores estão reflectindo sobre o quadro, mas o que se percebe é um sentimento de perplexidade."
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